Bolinhas de Sabão

segunda-feira, abril 21, 2008

Não Sei Quantas Almas Tenho

...

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
...
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
...
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa

4 Comentários:

Blogger alicia disse...

Foi eu que captei este momento da tua alma!
Hace alguños años! Fue una noche en lizaran! Y, desde entonces, nuestra alma ha cambiado todos los dias! Pero ha cambiado para mejor! Siempre para mejor!

Bejus muy grandes

segunda-feira, 21 de abril de 2008 às 23:30:00 WEST  
Blogger André Miranda disse...

Gosto mt deste poema que escolheste, nunca o tinha lido e é daqueles q considero bastante fortes ou como tu dizes "muito bem esgalhado". A maneira como ele questiona a sua existência é algo de fenomenal! Já quantas almas tens, não te sei responder, apenas sei que és alguém que admiro e gosto muito, isso é uma certeza! Beijo* :)

segunda-feira, 21 de abril de 2008 às 23:31:00 WEST  
Anonymous Anónimo disse...

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza às cousas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas,
Perante as cousas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!

sexta-feira, 25 de abril de 2008 às 01:11:00 WEST  
Anonymous Anónimo disse...

Tens uma GRANDE GRANDE!!

sábado, 2 de agosto de 2008 às 19:21:00 WEST  

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