Bolinhas de Sabão

segunda-feira, junho 16, 2008

DOBRADA...

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei multo bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.



Fernando Pessoa

3 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

"Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?"
Existem pratos que ficam muito melhor comidos no dia seguinte ao serem confeccionados e reaquecidos claro! A dobrada é só um exemplo.
Assim acontece com o amor…

domingo, 29 de junho de 2008 às 22:00:00 WEST  
Anonymous Anónimo disse...

E se pediste amor... foi o que te foi servido! ***(*)

domingo, 6 de julho de 2008 às 19:17:00 WEST  
Anonymous Anónimo disse...

Então Bárbara, para quando um novo post? ;)

quinta-feira, 24 de julho de 2008 às 02:23:00 WEST  

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