Bolinhas de Sabão

quarta-feira, abril 18, 2007

Que pode uma criatura senão amar?

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?
..............................................................
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
..........................................................................
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave
de rapina. Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
..............................................................................................................
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Ghouo*


Carlos Drummond de Andrade

3 Comentários:

Blogger André Miranda disse...

Sem dúvida um dos poemas mais bonitos que já li e que me faz ficar com um aperto ca dentro e uma lágrima solta no canto do olho! És unica! Obrigado por tudo e um Beijo Grande*

quarta-feira, 18 de abril de 2007 às 16:31:00 WEST  
Anonymous Anónimo disse...

“Sabes tenho medo de nós. Não costumo ter sorte. Mas a vontade que tenho é de te anunciar ao mundo. Só porque sou feliz desde que te conheço. E isso implica explicar porquê. E eu quero explicar.” Anónimo

sábado, 1 de março de 2008 às 23:42:00 WET  
Anonymous Anónimo disse...

...

terça-feira, 12 de agosto de 2008 às 00:48:00 WEST  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial