Que pode uma criatura senão amar?
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?
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Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
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Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave
de rapina. Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
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Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Ghouo*
Carlos Drummond de Andrade
3 Comentários:
Sem dúvida um dos poemas mais bonitos que já li e que me faz ficar com um aperto ca dentro e uma lágrima solta no canto do olho! És unica! Obrigado por tudo e um Beijo Grande*
“Sabes tenho medo de nós. Não costumo ter sorte. Mas a vontade que tenho é de te anunciar ao mundo. Só porque sou feliz desde que te conheço. E isso implica explicar porquê. E eu quero explicar.” Anónimo
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