Bicicletas em Setembro
Há dias assim! Há outros, que pelo calor de um sorriso, são diferentes. Outros há ainda, que pela forma como me arranjo para sair, se tornam verdadeiras campanhas à estupidez. Mas o que têm estes dias banais para me fazer entorpecer? Não sei. Talvez esta esfera gigante em que vivemos seja realmente sonâmbula, um barco singular à deriva, que nos embala descansada... Não se devia descansar, parece estranho, mas não é. Devia-se poder olhar, procurar sem cessar as essencias, os particulares, os breves instantes. Cada raiozinho de vida devia poder ser sugado, sem deixarmos que o próprio tempo se encarregasse de o roer, mansamente. Há instantes assim! Instantes sugáveis. E de tão singulares permanecem latentes, permanentes e nem o Zéfiro ou Bóreas serão fortes o suficiente para os arrastar.
Da janela do meu prédio eu oiço, ao entardecer, a cidade definhar-se vagarosamente;
vejo o sol e o dia repleto de muito mais...
Sinto o cheiro da rua, cálido, lancinante, tenebroso, oiço os passos pesados de um mundo...
Sento-me e descanso porque é tão profundo o meu cansaço.
Há dias assim!
Da janela do meu prédio eu vejo o tempo passar-me e sinto um tão terrível desgaste.
Porque do meu prédio eu sinto a vida que me falta.
Vejo a mulher descomposta de raiva em frente, e a mão que a ajuda a aprontar-se e vejo ainda, o tempo revoltar-se em rodopios comoventes, e as folhas a agitarem-se em medo permanente.
Do meu prédio sinto a brisa descontente, que se aconchega ao canto, e que encanto é quando saio do meu prédio à rua e em mil perguntas me embaraço, ai que cansaço.
Mas do meu prédio eu não vejo as bicicletas de setembro, por isso sei, que na esfera onde me perco não há tempo, nem doce, nem salgado, para nos deixarmos embalar.
1 Comentários:
Simplesmente espectacular! "Há dias assim"! E esse parece que foi um desses dias! beijokas grandes* e continua com essas postagens que dão vontade de consumir até não poder mais!
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